quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O Ponteirinho da Gasolina


Você está parado num posto de gasolina. O motor está desligado. O frentista está lá em pé ao seu lado e a bomba de gasolina não para de rodar os números de abastecimento. Você muda a música que está tocando e espera ele acabar. Tira o dinheiro ou o cartão de crédito da carteira e paga. Liga e de repente vê o ponteirinho da gasolina subir. O motor ronca como quem diz: “ACELERA”. Você vai embora curtir a vida em seu carango e ver como é bom ele estar com você para o que der e vier.

Sabe por que isso acontece? Porque você, assim como eu, sabe o quanto demorou até você sentir o prazer de ter seu próprio meio de locomoção motorizada. Porque você viu coisas absurdas dentro dos “busões” da vida e jurou para si mesmo que um dia compraria um carro e se livraria de vez daquela tortura diária.

A melhor sensação de um homem não é a ereção e sim a elevação do ponteiro da gasolina, afinal quando ele demonstra que o tanque está cheio isso abre caminho para que ele possa fazer várias outras coisas (inclusive ter ereções).

Você se senta em seu carro e olha para todo o ambiente que está ao seu redor. É como se tudo aquilo fosse seu. O mundo inteiro é seu. A vida é sua. Você pode dobrar em qualquer esquina e ver qualquer coisa que queira ver. Pode olhar para o pessoal dentro do ônibus e dizer: “aí, seus fracassados, olhem para meu carango e morram de inveja”. O carro ajuda você demais em qualquer momento. Até quando ele está parado na sua garagem sem nenhuma utilidade visível ele ajuda você a saber que a hora que você precisar ele estará lá. Ele é seu melhor amigo. Ele lhe faz estar pronto para qualquer (qualquer, mesmo) situação.

Agora, sabe o que mais me impressiona na vida? Ver gente que ainda abre a boca para dizer que gosta de andar de ônibus. O que diabos uma pessoa que diz isso tem na cabeça? Ainda se o sistema de transporte público das nossas grandes cidades fosse algo próximo do decente, eu até toleraria esse tipo de afirmação, mas é um lixo.

Você acorda cedo, anda uma eternidade até chegar na parada mais próxima e espera, espera, espera, espera até o cretino do motorista do ônibus resolver queimar a sua parada. Você fica puto, chama todos os palavrões possíveis e espera, espera, espera até que chega outro ônibus que vem lotado mais do que o normal porque o outro que você perdeu veio pegando todo mundo que ficou na mesma situação que você. Então você entra e dá um bom dia para o motorista que não lhe responde, é claro, se acomoda no ônibus (em pé, porque nessa altura do campeonato achar um lugar para sentar é como ver enterro de anão e pesquisador do ibope) e agüenta a viagem que você julga que será de paz, mas você esqueceu da criançada indo pro colégio e conversando besteira atrás de você. Esqueceu também daquele Mané que resolveu botar o celular tocando brega no banco de trás para todo mundo ouvir. Esqueceu dos estudantes com as mochilas nas costas passando e batendo em todo mundo como se o ônibus estivesse vazio Esqueceu dos freios intermináveis e das crianças chorando e vomitando dentro do busão. Enfim... visão do inferno.
Ah, e tem a melhor parte. Você pediu parada. Se acomodou na fila das pessoas que vão descer naquele mesmo ponto. Aí , de repente, você sente os dedinhos tocando em suas costas como se alguém estivesse lhe chamando. Você olha, pensando ser alguém conhecido e de repente a pessoa lhe pergunta: “Vai descer agora, é?”. Isso me irrita profundamente. Dá vontade de responder: “não, eu gosto de atrapalhar a vida das pessoas e ficar no meio do caminho só de sacanagem”.
Não, meus caros amigos leitores. Me deixem no meu carango 2001 sem ar-condicionado. Prefiro gastar uma grande parcela do meu salário subindo o ponteirinho da gasolina do que economizar usando o nosso transporte coletivo.

Fiquem com Deus.

*Este texto foi sugestão do leitor e amigo Rodrigo Niskier.

2 comentários:

  1. Isso é particularmente verdade para quem pega/ou Rio doce/CDU. Espero nunca mais ter que passar por aquele tipo de humilhação...snif, snif, kkkkkkkkkkkk
    abraço

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